segunda-feira, 25 de agosto de 2014



A gente anda na rua cego. A gente toca e não sente. O amargo e o doce são insípidos. As ondas do rádio são mudas. As palavras são vãs. Não vemos, não ouvimos e não sentimos. Também não falamos, é perda de tempo. E não temos tempo pra gastar, só pra perder. E amanhã é quinta, mas é só uma cópia de hoje. E domingo a cópia de domingo passado. O jornal é guerra no Oriente Médio, alguma coisa econômica na Europa e esportes. Somos vigiados, mas não importa, nada na verdade importa. Levante-se, cumpra a rotina, desvie-se das pessoas dormindo na calçada e tudo bem. Afinal a única coisa que fazemos é continuar vivendo nossas próprias vidas, a vida alheia é alheia, já estamos perdidos mesmo. O mundo já vai acabar. E a gente finge não ver os outros sofrendo nesse processo de fim do mundo. A nossa barriga está cheia, nossos filhos tem cobertores, e tem o salário no fim do mês. Por acaso a nossa vida tem mais valor do que a de quem sofre? As pessoas não são invisíveis. Fome, frio e guerra não são lendas. A culpa não é das drogas, dos antepassados, do capitalismo. Nosso egoísmo é a doença, repetimos todos os dias os erros dos tiranos. Não sentindo, não ouvindo, não vendo. A culpa é minha, a culpa é sua. 

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