Ás vezes me acostumo com esse ciclo, outras vezes surto. Afundo-me em
minha rotina como se ela fosse um colchão de plumas e logo depois corro de um lado
para outro tentando fugir dela. Engraçado isso, fugir da rotina, fugir de algo
que nós mesmos criamos, como se a rotina fosse uma cadeia, como se a vida nos
fizesse prisioneiros, talvez sejamos. Somos sim, prisioneiros, mas não da vida,
de nós mesmos, de coisas que nos tornamos voluntariamente cativos, dos nossos
vícios. Do vício de acreditar que ou vivemos pra trabalhar ou trabalhamos pra
viver, de achar gentileza algo antiquado, vício de não se achar bom o bastante,
de se contentar, ou de nunca se contentar, de substituir afeto por tato, sabe,
nos agarrarmos a coisas e não a gente, de convencer a si mesmo que a solidão é
uma coisa boa, de mentir que individual é melhor, de acreditar que não há mais
no que acreditar, de que a política é um mal irremediável, de se acostumar com
a ideia de que bilhões de pessoas morrem fome todos os dias, e que isso é só a
realidade do mundo, vício de ignorar quem não conhece, de não olhar direito pra
as pessoas, de andar correndo, de estar sempre atrasado para alguma coisa
importante que na verdade não tem importância nenhuma porque estamos viciados
em valorizar coisas insignificantes e desprezar o que realmente importa. Daí a
gente se consola em dizer que ‘tá afim’ de fugir da rotina, mas não faz nada
pra mudar, se deixa ser dominado por vícios ridículos que destroem nossa
admiração, que reduzem dias de vida que poderiam ser assombrosos em apenas
rotina. Sim, assombrosos, surpreendentes, de dar frio na barriga. Dias cheios
de possibilidades que estão disponíveis todas as manhãs, mas que a gente não
percebe. Perceberíamos se escolhêssemos ficar cativados ao invés de cativos. Se
escolhêssemos as virtudes ao invés dos vícios. Se olhássemos mais para as
crianças, se déssemos bom dia pra os vizinhos e pro cara na banca de jornais,
se lêssemos os jornais com otimismo, se ligássemos para os nossos pais todos os
fins de semana, se fizéssemos de estranhos, amigos, se aproveitássemos o tempo
na fila do banco pra relaxar, se sentássemos mais domingo à tarde pra tomar um
café, jogar xadrez, se jogássemos mais conversa fora, se corrêssemos mais no
parque só pra ter uma vida mais saudável, se sorríssemos e fizéssemos rir mais,
se cantássemos no chuveiro todas as
manhãs, se abraçássemos mais, se déssemos a nós mesmos uma chance. É, a gente
viveria melhor, sem pressa, escolhendo relaxar ao invés de ficar estressado.
Porque irmão, a vida é uma escolha e a escolha é nossa. Então vamos escolher acreditar, sorrir, cantar, aprender,
ler, sei lá, ter calma. A gente tá passando pela vida viciado na rotina imposta
por um histórico social cancerígeno, mas a verdade é que as pessoas têm que
largar o cárcere e começar a viver a vida, que é pra ser boa, que é pra ser
prazerosa, que é pra ser gostosa. Viver é bom, o tempo é bom, gente é bom. Tá tudo
aí, pra a gente, e a gente desperdiça. Que a rotina seja de assombro, de
surpresa, de frio na barriga, de boa fé. Pra a gente ser feliz.
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