domingo, 7 de outubro de 2012


Eu te observa de longe, todo o tempo. Desde a primeira vez que te vi, no meio da multidão, sabia que ali tinha alguma coisa, um enigma, sei lá, algo que me atraia quase que eletricamente. Aí teve aquela noite, o frio de perto de agosto, meus olhos te procurando, abraçada a mim mesma, me protegendo do vento gélido, e te achei. Você usava aquela jaqueta que te faz parecer obscuro e teus baços estavam ao redor dela. Eu não sei porque, mas meu coração disparou e eu sentia a pulsação nas minhas bochechas. Abafei um murmúrio. Não podia me fazer ouvir a está altura do campeonato, te gostava em silêncio, vestida em minha cômoda capa de invisibilidade. E lá estava você, lá estava ela. E eu, onde estava? Vocês pareciam habitar uma espécie de mundo perfeito, onde eu não existia. E ali, com os pés enraizados no chão, eu sabia que tudo o que eu tinha era o que eu sentia, não havia nada do outro lado. O frio piorava tudo. O fato de ter que me enfiar naquele apartamento minúsculo e tentar dormir numa cama que não era minha piorava ainda mais. Naquela noite eu me deitei, mas não conseguir dormir. Meu coração pulsava tão forte parecendo querer sair pela boca. Eu te odiava, eu a odiava. E não entendia. Por que não eu? Tinha que ser eu. Eu te amaria direitinho. Eu saberia seus sonhos de cor. Eu riria com você daquelas piadas que ela não entende. Eu até andaria de mãos dadas se você quisesse. Então por que não era eu? Eu que depois de umas três ou quatro palavras casuais já te conhecia por inteiro. Que decifrava seus olhos. Que entendia, mesmo em silêncio eu entendia. Mas você não sabia disso. Nunca saberia. Meu coração foi partido naquela noite fria de final de julho. E depois consertado. E depois partido novamente. E consertado. Eu meio que aprendi que não era pra ser eu, e que também não era pra ser você. Então, eu mudei de apartamento e evito sair de casa em noites frias de final de julho, só por precaução.

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